sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

O Piano e A Estrada

Querido Charlie, faz tempo que não lhe escrevo, não é? Peço-lhe desculpas, mas é que as coias estão meio pesadas ultimamente, como em aqueles dias de chuva que não passam, e você olha da janela e se pergunta onde o céu azul se escondeu. Sabe, era Fevereiro também, quando li suas cartas pela primeira vez, e eu poderia repetir sobre como me senti e como corremos na chuva, mas hoje não. Sabe Charlie, os abraços se perdem numa esquina qualquer, e todos tem que seguir, não é? Acho que Something About Us tinha realmente razão, o fim é perceber que o fim chegou. Lembro do primeiro gole de Rum, e como aquilo queimava a gargante, e como me ensinaram como se deveria segurar uma garrafa de cerveja e ser um magnata sem terno. Acho que eu me transbordei, não sei, não caibo mais em mim, ou nesse mundo, preciso evaporar, sair pelos poros, e deixar de ser pequena diante do mundo. Agradeço, sabe Charlie, eles me ensinaram que eu poderia dançar por aí, e ser quem eu quisesse, e eu poderia voar sem ao menos ter asas, mas agora eu estou com os pés presos no chão, tentando completar aquela música, mas não sei responder quem roubou nossa coragem. As coisas eram mais fáceis, quando andávamos pela cidade tentando nos achar pelas calçadas cheias de gente, e eu percebi que o caminho daquele mercado nunca mais será o mesmo. Nós eramos heróis por um dia e eu queria saber quando deixamos de ser os heróis de nós mesmos, e quando estar naquele túnel ouvindo aquela musica, deixou de ser importante. (...) E eu pude ouvir todas aquelas mucias que envolvem o Tempo, e que nós ainda temos todo o tempo do mundo, mas não somos tão jovens quanto antes. Eu achei que o abraço forte tinha me encontrado numa dessas esquinas, mas nós já nos perdemos tantas e tantas vezes, acho que nossos caminhos estão distantes de novo, junto com os olhos castanhos que ainda faz chover. Sabe Charlie, eu ainda tento lembrar de tudo, mas não há mais Tempo Ruim para nós, e agora? Vocês também se perderam e tudo passou a ser apenas fotografias de histórias que não acontecem mais? Sinto falta de fevereiro, sinto falta de saber onde eu estava, mas está tão escuro aqui sabe, não da mais pra fugir pro quintal de casa e olhar as estrelas. Meus olhos estão pesadas, acho que perdi minha vontade de me fazer existir, e ninguém mais me vê, eles viram, mas eles também se foram, e do que é feita a vida afinal, a não ser ir embora? (...) As coisas mudam, e eu envelheci 10 anos nessa ultima semana, e imagino como se é possível ter 130 anos e só aparentar o cansaço aparente? Sabe Charlie, não há mais infinitos aqui, e eu estou a procura da fuga numero 1.

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