O trem corre nos trilhos, trepidando entre estações. Pessoas marcadas pela rotina voltam para suas casas. Pergunto-me quais são suas histórias, alguém ainda tem algum sonho? O que seus olhos cansados e fundos podem mostrar além do peso do mundo que carregam nas costas? Quem ainda olha pro lado? Quem pode ouvir o que jovens sonhadores tem a dizer? Será que alguém acredita no futuro? Ah, a rotina do homem assalariado, sempre com pressa, sempre atrasados. Atrasados pro trabalho, atrasados pra casa, atrasados pra vida. A dicotomia dança entre sorrisos e recusas, dando as mãos pela prolixidade de quem não quer ouvir a verdade do mundo. Os prédios engolem o céu da manhã e a individualidade engole desejos de bons dias. Santa capital, transformando seus homens em máquinas que consomem dinheiro e energia vital. Quantas mensagens cabem em uma tela brilhante, enquanto os olhos fixos nela não olham para o lado? Quantas histórias não contadas cabem no silêncio eletrônico de uma vagão de trem?
Ah criança, vai pra casa e aprende a sorrir com verdade, porque a vida passa levando a multidão apressada pelos vagões sem sentimento. Vai criança, vai brincar enquanto há tempo, espera que alguém no mundo ainda pode nos ouvir e agradecer. Somos o que a vida chama de incomodo, e o que essa gente taciturna finge que não vê. Não são só dados bancários, não são só metas batidas, são apenas crianças, e a inocência que acredita que tudo pode ser diferente.
A fronteira para um mundo ilusionário.
Porque a realidade é incógnita demais.
domingo, 6 de setembro de 2015
Esquiva da Esgrina
domingo, 26 de julho de 2015
As flores do mal
A madrugada transborda e o silêncio grita meu desespero. Me perdi nas loucuras sóbrias que minha mente criou e não soube voltar. E pergunto quem sou agora, quando tudo deixou de fazer sentido. Inventei-me nas linhas que escrevi, tentando criar vida no vazio, mas só rabisquei mentiras. E eu se não puder me apagar? E se eu me perder nas linhas que eu mesma criei? Sou toda essa intensidade que não consigo suportar e ela transborda. Não me abrigo e acho injusto quando querem carregar o que não cabe em mim. Me sinto oca, como uma marionete sem vida de sorriso plastificado que só pensa em se deitar na solidão do mundo e deixa-lo me abraçar. Mas então a vida me puxa e mostra que não existe buraco para John Malkovitch e grita para que eu assuma minha propriamente existência. Não existe corvo na janela, não existe o Uivo, nem suas estradas. Rimbaud deixou o gênio para que eu destrua, e eu me perdi no caos que tentei decifrar.