segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Tudo o que não deveria ser dito

 Alguns dias, somente isso, e todo o meu sorriso irá se perder em lágrimas. Eu deveria estar feliz, eu realmente deveria estar feliz por você ir embora, mas eu não estou. A presença da idéia de você partir de vez me assusta demais, me prende o ar na garganta, eu mal consigo respirar. Seria assim se você não tivesse me deixado? Seria assim mesmo que os seus braços me envolvessem e você dissesse que tudo ficaria bem? Você ainda sim iria embora? Não, eu nunca vou saber, por que seus braços nunca vão além da minha imaginação, que insiste em te ter aqui, insiste em fazer de você o mundo que eu queria que tivesse sido.
 Nós nos separamos é verdade, mas isso nunca me impediu de sobreviver a base do seu sorriso que nunca foi meu. Quem poderia saber que por trás do sorriso feliz e do ‘Isso é passado” tinha alguém que se alimentava de cada fragmento solto no ar, de cada sorriso que nunca foi meu e de cada olhar que nunca me alcançou? Quem poderia saber que eu ainda te amava do mesmo jeito e que sem você meu mundo se partia em pedaços pequenos demais para serem recolocados de volta no lugar? Ninguém poderia saber, muito menos você. Eu fingi e menti muito bem o tempo todo. Atuei com maestria sobre não deixar você perceber. E o que eu ganho agora? Quando meu sorriso não é mais capas de esconder sua falta? Quando as mentiras de um outro alguém não são capazes de me distrair? O prêmio de consolação ou um simples parabéns por ter tentado?
 Depois de 4 meses e as tantas vezes que fui e voltei são inacreditáveis. Algumas fichas caídas, soluços a noite, uma brecha de esperança num outro dia, a volta pelo caminho já trilhado milhões de vezes. Eu estou andando em círculos sabia? Rodando e rodando, sem nunca chegar a algum lugar. Posso te culpar por ter me deixado aqui? Ou apenas admitir que eu que nunca deveria ter entrado?
 Eu nunca deveria ter começado a escrever sobre você. Esse deve ser o vigésimo texto, dizendo e dizendo, sem nunca realmente dizer nada. É como se os 2% esvaziados com cada 30 linhas se preenchesse a cada segundo. Mas me diga o que eu vou fazer, se nem meu maior remédio está curando a sua falta? Você nunca vai saber disso.
 Mas logo eu nunca mais vou te ver, nunca mais vou ter seu sorriso me aquecendo e me aterrorizando de um jeito bom e ruim. Lembra das antíteses? É, elas voltaram. Qual vai ser o jeito se eu já nem lembro mais do seu sorriso por algumas horas que passaram?
 Nós dois sofremos. Eu sinto a sua falta e ela não te da à mínima, não é? Eu corro atrás de você, enquanto você faz tudo por ela. Quem pode julgar a mim ou a você?  Quem pode dizer que nós somos insanos por ir atrás do que nos faz feliz? Eu sou insana. Quero o que não é e nunca me pertenceu. Morro por algo falso que está vivo em minha memória. Mas quem poderia me culpar? Eu culpo.
 E eu me pergunto, no final de todas essas perguntas, como eu posso escrever um futuro envolvendo o passado? Como eu posso querer você na minha vida, com todos os meus planos, se você foi embora a um tempo atrás? Você simplesmente não faz parte da minha vida, e eu tenho que entender isso antes que seja tarde, antes que o seu sorriso se vá e me deixe no escuro do meu caminho, sem ele me iluminando. Agora vá de uma vez, antes que eu me enlouqueça, antes que você me faça perder o resto de realismo que existe em mim em algum lugar. Antes que o sentido fuja mais ainda de mim. Somente vá, e, por favor, leve tudo o que é seu, tudo que eu não consigo soltar e deixar ir. Me desgarre das suas lembranças e leve-as com você. Vá e nunca mais volte, nunca mais encare e nunca mais sorria. Vá e me deixe aqui, eu encontro a saída, eu sempre encontrei tudo, sozinha.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

As quatro estações

 Ouvia o barulho das gostas de chuva tocarem o chão. Olhando para o teto, apenas ouvia o barulho da chuva, sem pensar, sem chorar, sem nada. Era como se tudo ao seu redor ficasse em paz. E os trovões? Esses já não a assustava, ela gostava deles, acolhia-os como uma velha amiga, como uma visita que nunca se demora, que nunca fica por muito tempo. Os relâmpagos eram a luz que lhe invadia, algo tão raro, vinha e em questão de segundos já a deixava, era apenas um olá da tempestade. Repetitivamente. O céu, oh como ela gostava dele, tão cinza, tão vazio, ele acalmava-a, deixava-a com a respiração presa. E a noite, oh ela amava a noite, a escuridão não amedrontava-a como costumava fazer na sua infância, era tudo tão forte, tão superior. Ela podia imaginar, oh como podia, imaginava as gostas caindo dos telhados, a garoa e o que sobrara da tempestade, e a imensidão noturna. Ela podia sentir o cheiro, não sabia explicar como era, mas era o cheiro do tempo úmido, do frio e do vento que entrava pelas persianas entreabertas e mexiam nos cabelos de quem se encontrava no meio dele. O frio, esse sim era seu grande amigo, amigo aquele que a confortava e a abraçava. Grande companheiro do inverno, inverno esse que havia chegado com toda a sua força e esplendor, abraçando quem o deixava entrar. Oh como ela gostava de tudo isso, dos chocolates quentes servidos na sala em volta do cobertor, dos cachecóis que ficavam ao vento toda vez que era posto a rua, adornando e esquentando quem o usava. Aquela sem duvida era sua estação preferida. Sorriu e em sussurros disse-lhe “Bem vindo meu velho amigo.”

sábado, 15 de outubro de 2011

Música de trabalho

Deslizou a pincel fino de tinta azul por todo o contorno preto, preenchendo-o, fazendo assim mesclas entre ambos. Seus pensamentos haviam sumido, enquanto fazia aquele grande pedaço branco ser preenchido, não só por cores, mas também por sonhos. Um borrão vermelho, outro cinza, e assim as cores iam tomando espaço, preenchendo não só a tela, mas também o seu coração, fazendo-a se esquecer por um tempo, observando somente as cores. Suspirou. Molhou levemente o pincel na tinta vermelha, levando-o para a tela e o descendo suavemente. E assim foi, com toda aquela mistura e troca de cores, fez mais um sonho sair de sua cabeça. Sorriu, dando três passos para trás, admirada. Havia terminado, finalmente, depois de tanta tintas e tantas telas jogadas fora. Ficou por um tempo lá, com a respiração presa, tentando achar algum defeito, qualquer coisa que fosse, algo que fizesse todo o seu trabalho ir por água a baixo. Nada encontrou, suspirou aliviada, finalmente poderia entregar a sua obra a quem tanto esperou por ela. Sorriu novamente.


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Depois do começo

Está tudo tão escuro aqui, e eu estou tão sozinha, como em mais um daqueles dias em que sorrir não vai fazer diferença, e que as pessoas iram se contentar com o meu “Estou bem.”. A solidão vai me abraçando aos poucos, preparando o terreno antes de me tomar por inteira. Palavras e mais palavras, e nada mais vai fazendo sentido, como tentar existir por linhas apagadas, como tentar criar vida através de verbos passados. As lágrimas não caem, e isso pesa nos meus ombros, transparece pelas olheiras do dia seguinte. São tantos erros que me assusta a idéia de estar acertando, são tantos desafetos que me assusta a idéia do apego. E as pessoas me perguntam onde estou, quando nem eu mesma sei direito. Eu só queria sumir, e quem sabe essa confusão também desaparecesse.