Ouvia o barulho das gostas de chuva tocarem o chão. Olhando para o teto, apenas ouvia o barulho da chuva, sem pensar, sem chorar, sem nada. Era como se tudo ao seu redor ficasse em paz. E os trovões? Esses já não a assustava, ela gostava deles, acolhia-os como uma velha amiga, como uma visita que nunca se demora, que nunca fica por muito tempo. Os relâmpagos eram a luz que lhe invadia, algo tão raro, vinha e em questão de segundos já a deixava, era apenas um olá da tempestade. Repetitivamente. O céu, oh como ela gostava dele, tão cinza, tão vazio, ele acalmava-a, deixava-a com a respiração presa. E a noite, oh ela amava a noite, a escuridão não amedrontava-a como costumava fazer na sua infância, era tudo tão forte, tão superior. Ela podia imaginar, oh como podia, imaginava as gostas caindo dos telhados, a garoa e o que sobrara da tempestade, e a imensidão noturna. Ela podia sentir o cheiro, não sabia explicar como era, mas era o cheiro do tempo úmido, do frio e do vento que entrava pelas persianas entreabertas e mexiam nos cabelos de quem se encontrava no meio dele. O frio, esse sim era seu grande amigo, amigo aquele que a confortava e a abraçava. Grande companheiro do inverno, inverno esse que havia chegado com toda a sua força e esplendor, abraçando quem o deixava entrar. Oh como ela gostava de tudo isso, dos chocolates quentes servidos na sala em volta do cobertor, dos cachecóis que ficavam ao vento toda vez que era posto a rua, adornando e esquentando quem o usava. Aquela sem duvida era sua estação preferida. Sorriu e em sussurros disse-lhe “Bem vindo meu velho amigo.”
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