segunda-feira, 22 de outubro de 2012

A hora do trem passar II



 O chão estava molhado, e das telhas pingavam o que sobrara da chuva. O sol fraco das 18h desaparecia por trás das montanhas, e os trovões ainda ralhavam pelo céu metade cinza, metade azul e rosa. A brisa batia e levantava cheiro, cheiro de chuva. Andava em passos rápidos  fazendo os fones caírem dos ouvidos, freneticamente. Tentava alcança a 15 de Novembro, estava atrasada, muito atrasada. O ar lhe faltava, e mal conseguia respirar, avistou a estação de trem, ele à esperava. Sorriu, como sempre fazia quando o via, e seu sorriso se alargou quando ele sorriu também. Adorava aquele sorriso, era de mostrar todos os dentes, fazia careta e fechava os olhos. Seu sorriso preferido. Também gostava dos olhos, claros e expressivos. Ele a abraçou, ficaram assim, um sentindo a respiração do outro, até a chegada do próximo trem. 

Mais do mesmo II


 Talvez eu desconheça a maturidade dos anos, mas queria, com todas as forças, ser senhora de mim mesma. Tem haver com a solidão que me espera em uma casa vazia ou com o a insegurança da mudança inevitável. O rumo das coisas são incontroláveis à meu poder e isso enlouquece, eu não tenho a direção nem a ordem, e não sei o que será do amanhã, quando nem o hoje mais me pertence.  O futuro longínquo me entristece e tenho medo, medo de que as coisas sejam como eu sinto. Posso esperar o contrario?  [...] Dizem que é preciso viver só o presente, mas isso é inútil pra mim, quando minha cabeça não pára para viver, apenas vê através de tudo e me frustro antes de ter a chance de realmente me frustrar. É que isso pra mim é demais. Eu estou perdendo muito, como se cada minuto respirado, estivesse me sufocando. Eu não vivo, e me pergunto qual é a graça do existir. Eu quero agarrar o mundo e devorar cada pedaço. É pedir demais? [...]
 Anseio pelas mínimas partes, para que tudo seja meu antes do tempo terminar. A vida é tão curta criança, porque passar tão pouco tempo parado, olhando pela janela? Acho que é isso que faz as pessoas caírem no mundo e se perderem pelo caminho, sem querer voltar. E eu fugiria, agora, nesse exato momento. Iria para qualquer lugar que me dessem afago e logo me iria embora. Então, qual o sentido disso tudo?