Uma vez, em um desses dias que o inverno te faz desejar um abraço, um escritor me disse; “pessoas que lhe dão inspiração, merecem ser eternizadas”. Também reza a lenda do vendedor de sapatos, que quando se escreve sobre uma pessoa, ela é pra sempre. Assustei-me, como poder eternizar alguém com simples palavras? “Porque o que está no papel não se apaga mais (...)”, disse alguém uma vez. E eu tenho eternizado pessoas, e não sei a gravidade disso, quando às vezes o que quero é esquecê-las.
Mantendo a solidão no eixo, enquanto ela puxa uma cadeira
do meu lado, e fica, e eu ofereço uma xícara de chá. Há noites agradáveis, não
faz tanto frio, e ela não é tão grande. Mas há aquelas noites em que o quarto
escuro faz nevar, e ela toma conta, me sufoca, e eu só quero correr pelo mundo,
ver as estrelas, sabe? Bom, às vezes saiu, sento no chão de cimento gelado,
olho pro céu, e as coisas são mais calmas assim. O mundo volta a girar, o tempo
volta a correr, rotação e translação, e a ciência dizendo o que sabe. O céu é
cinza, não há estrelas, mas não há solidão. Em um desses dias, lembrei-me dos
momentos bons, das lembranças que guardo, e às vezes, só às vezes, eternizo. Lembrei-me duma dessas tardes que se não espera nada, mas as coisas acontecem, tinha a música alta direta aos meus ouvidos, a tequila me
deixando tonta, e tinham eles, e nos abraçamos, formando uma roda, deixando a
música nos levar,
e eu sinto que flutuamos, como costumávamos fazer antes. Éramos em grande
número, todos diferentes, e iguais, riamos, andávamos por ai sentindo-nos os
donos do mundo. Éramos mafiosos
italianos, ou às vezes crianças em playground. Dançávamos como se o mundo fosse
uma festa, e para nós, era. Em uma dessas noites, que se tem que ir embora, com
vontade de ficar, em meio aos abraços e despedidas, decidi, eles seriam
eternos.
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