sexta-feira, 4 de julho de 2014

Avohai

Olha menina, o céu aqui também deixou de ser azul, é só esse cinza todo sobre nossas cabeças. Eu quero que chova, que alague, e que nos inunde, para que possamos transbordar e esvaziar esse nada que nos preenche. Você me entende, menina, todo esse nada que toma tanto espaço, que pesa nos nossos ombros e faz os olhos não fecharem. Qual o sentido disso tudo? Estamos vivas, não estamos? Por que não podemos fugir, virar donas de nós mesmas e viver perto de toda árvore que desejarmos? As coisas poderiam ser mais simples, não é? (…) E foi naquele momento que rodamos sem parar, e as árvores eram testemunhas, eu pude lembrar dos meus infinitos. Eles estavam tão distantes, tão juntos com a época em que os shows num parque e as rodas de abraços entre amigos faziam as tardes de domingo terem sentido. E lembro de ouvi-lo cantar: “Desculpe estou um pouco atrasado, mas espero que ainda dê tempo de dizer que andei errado, e eu entendo…” e eu lembrei de você, menina, porque sabia que você também sentiria o infinito estando lá. E eu vi dois pássaros voarem ao som de All Star, e o pôr do sol que ganhou cor através do escuro daquele óculos. Sabe menina, talvez os infinitos ainda existam, e estão ai espalhados, e talvez os encontremos em algum refrão por ai. (…) Eu vi aquele menino ir embora, e por Deus, como desejei que ele ficasse. Mas as pessoas se vão, não é? Os abraços sempre se perdem por ai, e o dele eu perdi numa avenida cheia de carros, enquanto seu olhar me dizia alguma coisa, mas eu não consegui entender. Ele me disse sobre a grama, e o momento certo das coisas acontecerem, mas eu não entendi logo de cara, sabe, o tempo teve que leva-lo embora, para eu perceber que algumas coisas simplesmente não são, e as pessoas só entram nas nossas vidas para nos ensinar algo, e as vezes, só as vezes, deixa na nossa vida, quem tem que ficar. (…) “Um velho cruza a soleira de botas longas, de barbas longas, de ouro o brilho do seu colar. Na laje fria onde coarava, sua camisa e seu alforje de caçador…” Quem vai nos salvar, de quem nós mesmas escolhemos ser? Eu me sinto tão perdida, como se um universo existente dentro de mim estivesse carregando todo o peso dos mundos, e eu quero poder sair por ai e respirar, e saber que está tudo bem. Como posso procurar algum lugar mais calmo, se eu não sei a onde estou? Já sentiu como se o mundo fosse muito grande, e você apenas uma mínima parte, que tenta de toda forma se agarrar a ele? Como se fosse possível abraçar o mundo com os pés, e passar essa urgência em papel e caneta. Não sei em que esquina eu me perdi, só quero minhas asas para voar. E não há incensos e Ametistas que dê paz nessas noites em que o mundo cai nos ombros.

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