terça-feira, 29 de julho de 2014

Medo da chuva

Quem vai descobrir a verdade sobre a solidão? Não sei. Sou apenas minhas inseguranças, medos e fracassos, acompanhados pelo frio da madrugada que grita e enche a casa com suas lamurias e perguntas que não há respostas. Um dia disseram que a solidão era uma boa companheira, era estar só consigo mesmo, e tentei pensar nisso como algo bom. Mas como posso conviver comigo mesma? Como posso não fugir de mim? Mas agora não há sol, não há livros, não há música e nem gente. Sou apenas eu. Quem pode me salvar dessa louca que não sabe o que quer? Quem pode me salvar de me afundar em loucuras que desconheço? Um dia disseram que o que afoga alguém não é o mergulho, mas sim permanecer debaixo d’água. E foi numa tarde em que a mente pede um pouco de calma, que li sobre um guerreiro da luz. E o guerreiro percebeu que passamos repetidamente por algumas coisas para aprender o que não queremos aprender. E eu percebi que tenho errado muito. (…) Tomei um gole de tristeza, e ela ardeu à garganta, enquanto a tosse não aliviava o arranhado que queimava, eu pude ver as pessoas sobreviverem, e andarem por ai, com o peso do mundo nas costas. Sempre me perguntei como puderam deixar transparecerem assim, e a dor parece tão amiga. E foi numa dessas avenidas em que você não consegue distinguir se a garoa arde mais que o frio, que te encontrei de novo. Você me puxou pela mão e levou a um lugar mais calmo, e falamos sobre a vida. Você também ouviu a música, e eu achei que poderíamos voar por ali, junto com o céu e o topo daquele prédio. Mas eu estava lá sozinha, com todo o grito de saudade entalado na garganta que ainda ardia. Você ouviu o grito que meus olhos denunciaram? Mas eu notei o seu cansaço, a sua vontade de se abrigar e correr para longe. Não te culpo, menino, a chuva foi testemunha de um abraço desajeitado, e de como você não precisava fazer nada disso. Você poderia apenas ter ido, sem volta, sem parada para agradecer, sem tchau de despedida. Apenas ido, e levado suas memórias. Mas você as deixou comigo, junto com a nossa imagem se misturando a cidade e os carros que poderiam ser foguetes. E eu ainda continuo sem ter o que dizer, e o seu sorriso continua sendo o sorriso mais bonito do mundo.(…) Guardo a inspiração, e espero que ela exploda em mim, para transbordar, mas agora não vejo mais o que poderia dizer, já não há inspiração, já não há papel em branco que me salve, e eu enlouqueço por não poder enlouquecer. E eu continuo sendo a mesma de antes, a menina burra que não sabe dizer o que sente, que não sabe receber carinho e nem abraços. Quem poderia ajudar esse monstro que se esconde em sorrisos bobos para a vida? E quebrar a cara já não é o bastante. Cansei de boicotar meu próprio espetáculo, de fechar a cortina na cena principal e acabar com o ápice da peça. Estou sempre a um passo à frente de mim, e me trapaceio, me faço tropeçar, tudo para mostrar que sou melhor sem mim. Eu poderia me deixar de lado, não poderia? Agir como a garota que depois da terceira dose já está conversando com todos e sorrindo pra qualquer um, sendo apenas sombra dançando com as luzes piscantes de um balada qualquer. Quem vê além da carcaça de menina boa que estuda pra entender os outros? E eu volto pra toda essa melancolia de quem não sabe viver por si só. Talvez eu esteja pronta para desistir antes de fracassar. Já são 2 horas de uma quarta feira fria, já são dezenas de pesadelos perdidos, e algumas palavras que não preencheram vazio nenhum. Mas e quando o choro da madrugada não adianta? Quando o soluço é alto, e os olhos começam a inchar? E eu quero gritar para o mundo que a solidão me dói, quero deixar claro aos quatro cantos que é difícil ser sozinho. E além disso quero um abraço e um coração. Um carinho enquanto o sono não chega, e ouvir duas risadas se misturando. Quero um olhar que entende e completa o meu. Muito mais que os amores pedem, eu quero a capacidade de aprender a me doar para que isso tudo de certo, e deixar de lado essa minha preguiça de me deixar existir por inteira.

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