segunda-feira, 22 de setembro de 2014
Taquicardia
E seguimos sendo assim, nessa prolixidade toda, enquanto acho graça da vida e sorrio o tempo todo. Eu sou de mentira, meu bem, mostrando para o mundo uma carcaça de anseios e futilidade. Querendo me fazer ser vista e distribuindo uma luz que não possuo. E inviabilizo tudo o que é real, descarto tudo o que é de interior, e passo a ser apenas aparência. Como vou me libertar de minhas próprias correntes? Eu quis assumir a bagunça dessa vida vazia, mais há tanta folha em branco aqui, avisando que as palavras podem sim sufocar. Eu tentei me livrar de mim por 5 dias, e fui apenas a liberdade que guardo aqui, andei por ai e me senti completa por estar só. […] A lua mudou, e os 30 dias que causaram transtorno já estão indo também. E usei a lua cheia para dar fim a um ciclo, e como um furacão que não cessa, toda a loucura explodiu. Li numa manhã de sábado que o sólido se desfaz no ar, e o quanto de noradrenalina é preciso para voltar a mim? E tudo está desfeito no ar agora, posso ver os nós desatados em cima de minha cabeça. O que condiz com a realidade em que carrego? Qual a culpa posso ter por não me doar para o mundo? Hoje estou aqui, mas não sei quem sou. Quem é que sorri o tempo inteiro? Quem pensa mais do que a mente aguenta? Perdi-me nos personagens que inventei, só pra ver se conseguia também me inventar, mas o que restou foi à desconexão de todos os polos do meu corpo. E a sanidade vai me corroendo, apresentando o mundo que não quero conhecer, enquanto as pessoas dizem “Olá” e não sabem sorrir de volta. E eu pergunto se esse isolamento é dos outros ou de mim mesma. E tudo é tão mutável sabe, hoje aqui, amanhã ninguém sabe, o mundo gira, e nós seguimos em frente. Quem vai continuar aqui daqui a 10 anos? Eu vou continuar aqui? Perguntas como está me consomem, porque eu não quero a resposta que tenho. Posso correr o risco de mudar? […] Eu nunca soube o que dizer, e hoje não tem mais ninguém aqui para ouvir, as palavras escapam pelos meus dedos, e eu faço do papel publico acústico. As palavras podem sim sufocar, e aprender isso na pratica torna toda madrugada mais pesada. Hoje não tenho nada, sou só o pó daquela que chorou uma madrugada inteira e dormiu com olhos cheios de água. Você não precisava ter ido embora, havia mais que um amontoado de poeira aqui dentro, você só precisava achar, e tava tão fácil, sabe. E é quando a loucura beira o precipício da realidade que nós percebemos o quanto é difícil se levantar e seguir, olhando o sol que bate na janela do ônibus. Acalmei a minha mente e continuei por ai, deixando atrás da porta tudo o que me prende lá também. Quem é essa garota que não sabe ser de ninguém e nem dela mesma? Eu só quero voar por ai, sem a responsabilidade de me fazer existir por mais uma semana, só me deixe aqui, enquanto ainda não tenho asas. Um dia eu as encontro.
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