Oh, vocês não imaginam quantas pessoas eu já observei, quantas pessoas conheci, no mais intimo de suas almas, no mais fundo de seus corações. Na verdade eu gosto de ver as pessoas, de reparar nos sorrisos, nos olhares e nos jeitos, mas nunca me esquecerei daquela garota, daquele semblante forte, que escondia mil e umas fraquezas e fragilidades, daquela pessoa tão incrível que ninguém nunca percebeu.
Faz tempo, sim, como faz, mas ela continua intacta nas minhas lembranças, cada uma delas. E é tão incrível como as pessoas não enxergam coisas simples, como um sorriso e um piscar de olhos, é só reparar, os pequenos detalhes mostram mais que horas de conversa. E foi no meio de tantas pessoas que eu a encontrei, sentada em um canto qualquer, junto com vários amigos, e ao mesmo tempo se sentindo totalmente sozinha, como sei isso? Simples, ela podia estar sorrindo, mas seus olhos me mostravam a verdade que ninguém nunca tentou procurar. Ela sempre esteve lá, dando amostras de seu interior, dando risada de tudo, simplesmente encantadora, e como ninguém nunca a notou? Eu não sei.
Mas nem sempre é assim, nem sempre eu consigo ver o que ela está sentindo de verdade, porque ela fingi muito bem. Ela sempre foi boa em atuação, em mostrar felicidade quando essa não existia, disfarçando tido apenas com seu sorriso, e como era lindo seu sorriso, ela não gostava, não acreditava, mas era o sorriso mais lindo que já vi.
Nunca entendi o motivo de terem quebrado aquele coração, de como o garoto que o fez era idiota por tê-la perdido. Ele fora o primeiro que conhecera o seu interior, que descobriu o quão diferente das outras ela era. Ele descobriu seus ataques de insegurança e suas indecisões, e não eram poucas. Mas ele nunca notou coisas simples, como sua mania de falar demais e rir de tudo. Sua paixão por escrever, ler, ouvir músicas e desenhar. E como os fazia, era uma necessidade incontrolável, e poucos sabem disso.
Ele nunca percebeu em como ela era engraçada, em como era desastrada e as vezes tímida. Como se camuflava atrás de uma capa de pseudo-frieza, tentando evitar sofrimento. E em como ela era estranha, adoravelmente estranha. Mas ele mentiu, a fez acreditar em um suposto amor e logo depois foi embora. Por que ele o fez? Bom, isso ela nunca jamais vai saber.
Ela era só uma garotinha medrosa, uma garotinha que fingia ser forte e não ligar para sentimentos, uma garotinha que tinha medo de sofrer de novo, mas que sempre ficava em duvida entre tentar e recuar. Eu descobri isso na primeira vez que a vi chorar, lá estava ela, abraçada ao seu travesseiro, com suas músicas e seus textos, chorando. Lágrimas e mais lágrimas caiam, e perduraram pela madrugada inteira. A escuridão a acolhia, e eu percebi que ela nunca iria chorar na frente de ninguém.
As vezes eu tinha a sensação de que ela iria explodir, de que não agüentaria mais, mas eu sempre estive errado, ela sempre conseguia levantar a cabeça e sorrir, mesmo que para ela, tudo estivesse desabando. Ela era surpreendente, conselheira e amiga, não importava quem fosse, ela estava disposta a ajudar. Esperta e desconfiada demais, porque não importa o que diziam, ela nunca acreditaria totalmente.
A ultima vez que a vi, faz tempo, lá estava ela escrevendo mais uma vez, desabafando por meio das palavras, fazendo delas seu consolo, seu ombro amigo. Escrever, para ela, era a única forma de dizer sem precisar falar absolutamente nada, e ninguém sabia, que somente lendo as entrelinhas de seus textos poderiam a conhecer como eu a conheci. E dessa vez lá estava ela, concentrada, pensativa, escrevendo sobre ela mesma, escrevendo sobre o que ela queria poder acreditar que realmente era, talvez por isso o fosse, ou talvez tudo se perderia nas linhas e ela se anularia novamente. Mas quem sabe, no querer acreditar, ela não passasse a sê-lo?
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