terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Velho e o Moço


 Sentei-me em um banco e enquanto observava as pessoas andando apressadas demais para uma tarde fria de inverno, acendi um cigarro. Então um suspiro pesaroso a denunciou, sentada ao meu lado, com os olhos escuros e vazios, fixos no nada. Era velha, as madeixas brancas que lhe cainham no rosto de rugas fundas e expressão cansada lhe denunciou o tempo.
 - Dia ruim minha querida – Disse, deixando-me confusa sobre suas palavras, sem saber ao certo se fora para mim ou um desabafa solitário. Olhei-a, e sem se quer virar-se a mim, continuou:
 - Eles assustam, não é?
 - Muito.
 - Não... a mim não. – Falou-me, com um sorriso no canto dos lábios.
 - Como?
 - Existem coisas mais assustadoras minha jovem.
 - Diga-me, então?
 - Minha vida. Quer que eu lhe conte a minha história?
 - Conte-me.
 - Já tentou ter o controle de coisas incontroláveis? Quando se é impossível ser senhora de si mesmo, e você insiste em deixar a vida como ta e seguir mesmo assim.? Não há motivação. E em ti, existe motivação?
 - Sim, minha família. Tem família, senhora?
 - Não, todos se foram.
 - Vive sozinha?
 - Talvez, porque quando não há quem espere sua volta para casa, no final das contas, não existe vida se não tiver para quem a contar.
 - E as lembranças?
 - Oh, tenho muitas, mas não há quem as queira ouvir. A casa é solitária, e mesmo aos domingos, sento-me no sofá e observo a porta fechada, e pelo vidro da janela, vejo o dia escurecer. Os anos passam e é sempre o mesmo. E eu me culpo, oh como em culpo, por não ter conseguido evitar minha própria idade.
 - Mas isso é inevitável, não é? O tempo é inevitável.
 - E a solidão também. O vazio me preenche há anos, e os sorrisos foram me escapando dos lábios e saindo pelos olhos, hoje sou seca, nada mais me escapa, nada mais me abala nem me preenche. Consegui ver o que ficou?
 - Tristeza?
 - O nada. Apenas isso, um grande e surpreendente nada. Eu tentei agarrar o universo com os braços, minha jovem, e hoje mal consigo erguer os olhos para contemplá-lo. Você entende o que eu quero dizer?
 - O universo é grande.
 - E a vida cabe em uma mala. Bagagem grande que é levada ao ombro e te deixa cansada no final da viagem. Uns morrem e outros se perdem, e ainda me pergunto, qual a diferença de ambos quando nem eu mesma sei em qual deles parei.
 - Presumo estar indo pelo mesmo caminho.
 - Então troque o caminho, não vale à pena trocar a comodidade pela solidão. Vire a direita, admire outro caminho, e esqueça. – E sem se despedir ou virar-se a mim, levantou-a e foi embora. Fiz o mesmo, levantei-me e segui para longe, e por um atalho, olhando para o céu estrelado, a esqueci.  
                 

Nenhum comentário:

Postar um comentário