- Dia ruim minha
querida – Disse, deixando-me confusa sobre suas palavras, sem saber ao certo
se fora para mim ou um desabafa solitário. Olhei-a, e sem se quer virar-se a
mim, continuou:
- Eles assustam, não
é?
- Muito.
- Não... a mim não. –
Falou-me, com um sorriso no canto dos lábios.
- Como?
- Existem coisas mais
assustadoras minha jovem.
- Diga-me, então?
- Minha vida. Quer
que eu lhe conte a minha história?
- Conte-me.
- Já tentou ter o
controle de coisas incontroláveis? Quando se é impossível ser senhora de si
mesmo, e você insiste em deixar a vida como ta e seguir mesmo assim.? Não há
motivação. E em ti, existe motivação?
- Sim, minha família.
Tem família, senhora?
- Não, todos se
foram.
- Vive sozinha?
- Talvez, porque
quando não há quem espere sua volta para casa, no final das contas, não existe
vida se não tiver para quem a contar.
- E as lembranças?
- Oh, tenho muitas,
mas não há quem as queira ouvir. A casa é solitária, e mesmo aos domingos,
sento-me no sofá e observo a porta fechada, e pelo vidro da janela, vejo o dia
escurecer. Os anos passam e é sempre o mesmo. E eu me culpo, oh como em culpo,
por não ter conseguido evitar minha própria idade.
- Mas isso é
inevitável, não é? O tempo é inevitável.
- E a solidão também.
O vazio me preenche há anos, e os sorrisos foram me escapando dos lábios e
saindo pelos olhos, hoje sou seca, nada mais me escapa, nada mais me abala nem
me preenche. Consegui ver o que ficou?
- O nada. Apenas isso, um
grande e surpreendente nada. Eu tentei agarrar o universo com os braços, minha
jovem, e hoje mal consigo erguer os olhos para contemplá-lo. Você entende o que
eu quero dizer?
- O universo é grande.
- E a vida cabe em uma mala.
Bagagem grande que é levada ao ombro e te deixa cansada no final da viagem. Uns
morrem e outros se perdem, e ainda me pergunto, qual a diferença de ambos
quando nem eu mesma sei em qual deles parei.
- Presumo estar indo pelo
mesmo caminho.
- Então troque o caminho, não
vale à pena trocar a comodidade pela solidão. Vire a direita, admire outro
caminho, e esqueça. – E sem se despedir ou virar-se a mim, levantou-a e foi
embora. Fiz o mesmo, levantei-me e segui para longe, e por um atalho, olhando
para o céu estrelado, a esqueci.
Nenhum comentário:
Postar um comentário