sábado, 12 de outubro de 2013

As Curvas da Estrada de Santos

Gostava de brincar de boneca, menininha era, trocava roupa e dava comida, cozinhava e me achava dona de casa. Tinha 2 primas mais velhas, uma de março, outra de junho, eramos do mesmo quintal, cantávamos, dançávamos, brigávamos, como tinha que ser. As tardes íamos para fora, andar pela rua de terra, andar de bicicleta como quem viaja pelo mundo, apenas em uma rua. Lembro do mar, e as vezes do frio, o fusca e a estrada. Lembrava-me meu tio a cantar Geraldo Vandré a caminho da serra, Zé Ramalho também participava da viagem, e todos cantavam em uníssono. Pra não dizer que não falei das flores e dos Mistérios da meia-noite. Sempre fui menina de praia, desde pequena, catava conchinha e diz a lenda que se podia ouvir o barulho do mar. Meu pai tocava violão na escada, “Amanhece, amanhece, amanhece, amanhece o dia, um leve toque de poesia, com a certeza que a luz que se derrama, nos traga um pouco, um pouco, um pouco de alegria.”, e eu acordava assim, com um bom dia sol, nos dias de domingo com café na mesa. Minha mãe me levava com ela, lembro de sair pela cidade; “não solta a minha mão.”, e o mercado era tão grande junto ao desespero de acha-lá. “Nada do que foi será, de novo do jeito que já foi um dia, tudo passa, tudo sempre, passará... A vida vem em ondas, como o mar, num indo e vindo infinito.” Lembro das músicas e da vizinha, melhor amiga de infância, foi-se embora, assim como quem some e não deixa rastro, lembro de chama-lá pela cerca, como quem foge para longe. O porão da casa dos meus avós, e o poço, lembro de como tínhamos medo, e agora me pergunto, por que mesmo assim não saiamos de lá? Tinha o barril, e as tardes de calor, e o passarinho que morreu nas minhas mãos, como cuidamos dele, e choramos, crianças que perdem um amigo. Lembro de ter medo de fogos de artificio, e de churrasco de fim de ano. Descíamos a serra e Os Incríveis nos embalava. Era um garoto e como eu amava os Beatles e os Rolling Stones me fazia rir.

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