Virou outro copo garganta a dentro, o mundo é mais fácil de ser encarado quando não se está sóbrio. O gosto amargo do vinho seco, e barato, rasgavam seu fígado; “Que fígado?” Aquele músculo inútil e podre que não devia mais existir dentro de si. Mais um gole, fechou os olhos em careta desajeitada, não estava pronto a parar, não quando toda a imundice global vinha no ar, direto aos seus pulmões. Aquilo era o inferno e ele estava queimando. Mais um bar, mais um copo, mais uma espelunca com odor de urina e putas transitando para mostrar produto, mas não importava, não se o seu dinheiro pagasse. [...] Deixou as moedas que lhe restaram de mais um dia sujo sobre o balcão, ziguezagueou até a saída, a cabeça pesava sobre os ombros, era hora de ir para casa, sem a emoção da espera, ninguém estaria lá de qualquer maneira. Vadias entravam e saiam, levavam seu dinheiro depois de algumas horas de serviço e gozo rápido, e isso era tudo. [...] Abriu a porta com imensa dificuldade, a fechou e se jogou no sofá surrado ao canto do pequeno quarto. Tateou a cômoda a procura da sua caixa de cigarros, pegou um e o girou entre os dedos, acendeu e o levou a boca, nada melhor que toda aquela nicotina direta para o seu pulmão. Ligou o rádio, deu play e os primeiros acordes de guitarra começaram, o teto rodava e ele gostava dessa sensação, ébrio e sem pensamentos. Soltou a fumaça em um suspiro. Ficaria bem enquanto ficasse assim, até o próximo dia.
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
quinta-feira, 26 de janeiro de 2012
Dado Viciado
Eu queria poder dizer que não deu certo, como outras tantas histórias, como tantos outros casais. Mas, se quer teve começo. É só mais uma daquelas histórias que não leva a nada nem a ninguém, mais uma das minhas histórias que sempre segue o mesmo enredo. A personagem principal continua, mas o parceiro de cena não. O personagem da vez aparece, e as cortinas se fecham antes mesmo de começar o espetáculo. E resta só alguns murmúrios atrás do cenário e algum choro no camarim. É que depois de ensaiar tanto, ver todo o script e o esforço serem ameaçados e arremessados ao lixo dói. Como não saber se história daria certo ou não, se ao menos tivesse começado. Escrevo diálogos, imagino cenas e decoro o script, como se fosse a primeira vez, como se eu nunca estivesse em cena antes, como se nunca tivesse dado errado. Alguns sorrisos, e acho que a história vai ter um final feliz, um gesto não interpretado e drasticamente não sei como continuar, perco as falas, perco o rumo e não sei mais para que lado sair, enquanto os outros observam, sem dizer uma palavra. E esse diretor misterioso e chato que é o destino, acaba com tudo sem me perguntar, ou, simplesmente, bagunça mais ainda.
E é nesse teatro descontrolado que minha vida entra, me joga no palco sem saber o enredo, e acha graça quando fico estática sem ter o que falar. É mais uma daquelas tantas vezes que improvisei sem saber sobre o que. Na arte de interpretar, as lágrimas não fogem por detrás dos olhos. [...] O personagem muda novamente com diálogos e frases prontas, mas dessa vez serei platéia, e deixar que a história acabe sem mim.
terça-feira, 24 de janeiro de 2012
Abre-te sesamo
Talvez meus sentimentos sejam só uma linha em branco, algo que não se pode entender, por não existir. Mas eu continuo tentando, algum rabisco ou vírgula que seja, mas é só uma linha em branco, afinal. E por sempre esperar que algo aconteça, preferi não esperar por mais nada, talvez férias de toda expectativa muda que inutilmente ainda existe. Férias de todo o cansaço, somente sumir, desejando que a metáfora atravessasse os meus ossos, e se fizesse real. Eu quero mais que um tempo, eu quero dar um tempo no tempo que tem deixado a minha vida parada, imóvel demais parar qualquer coisa, e que me faz lembrar o vazio e o cansaço, e isso cansa. Desnecessário, desnecessário. Quero que tudo volte a girar, mesmo que tudo vá para baixo de vez em quando, só quero sair da mesmice que minha vida tem estado. Eu quero a surpresa do instável e a fragilidade das emoções. [...] Eu não quero me explicar, também não peço para que me entenda, só quero o silêncio acolhedor de ombro amigo, só quero o afago invisível sem sensação ao toque. É pedir de mais? Só quero que o que não foge a regra vire exceção.[...]
Parei por aqui, é muita linha branca querendo fazer sentido, muita palavra fugindo do significado. Mas e quando você não consegui desistir? Quando algo te puxa pra continuar, mesmo sabendo que não dará certo? Talvez seja o prazer de ver tudo em ruínas. E pra variar nada sai como o planejado, as pessoas não seguem o dialogo, e eu continuo assim mesmo, como se fosse preciso de todas as letras para me fazer ir embora. E eu vou, jogo os jarros nas paredes e bato a porta, dramatizo até o ultimo olhar para traz, e volto. Como se ser posta para fora não fosse o suficiente, eu sempre dependo de esclarecimentos para ir de vez. Não sabe explicar? Eu também não, meu querido, só acho que todos precisam de segundas chances, mesmo quando o orgulho for grande demais para atravessar a fronteira. Não me pergunte o que me faz ir embora, quando nem eu mesma sei. Só quero ser seguida, mesmo que por um ultimo adeus. Eu vou, e meu orgulho trava uma batalha com a esperança e ela sempre vence.
Só quero terminar logo pra ficar no passado, só quero que a dor não se demore a ir embora. E de tantas palavras jogadas ao acaso, algumas conseguem fazer sentido, mesmo que eu mesma não faça sentido, nem pra mim nem para os outros. Sou só uma incógnita cheia de erros e difícil de ser resolvida, intensa e indecisa demais. Talvez nunca se resolva ou seja só drama de adolescente. Mas enquanto a idade não mudar os fatos e o imóvel não começar a se mover, eu continuo na linha branca, indo e voltando, como quem não sabe o que quer.
terça-feira, 17 de janeiro de 2012
Era um Garoto e Como Eu Amava Beatles e os Rolling Stones
Tudo estava girando, minha cabeça estava pesada, e a música alta me ajudava a não pensar. Levei uma garrafa recém aberta a boca, ingerindo a maior quantidade de álcool que consegui. Isso fazia minha garganta queimar, mas eu não me importei, não enquanto os acordes não terminassem. [...] Metade da minha culpa tinha ido com outra garrafa, e mais outra e mais outra. Outros acordes começaram, e só restou a música, o bom e velho rock n’ roll, era tudo o que fazia sentido pra mim naquele momento. Fechei os olhos e deixei com que minha cabeça guiasse o corpo, oh como aquela sensação era boa. Os problemas do amanhã só seriam resolvidos no amanhã, hoje não, não enquanto a mente ébria embalasse a guitarra, não enquanto minha voz alcançasse os ouvidos. Acompanhava o refrão e fazia coro, era como se gritasse a alma, em cada palavra, em cada sacolejo as coisas sumiam, tudo ao meu redor, eu não sentia mais as pessoas a minha volta, e tudo ficou bem em cada 3 minutos que passavam, até que os acordes terminavam. E depois daquele dia eu sei, tudo vai ficar bem, enquanto os acordes não terminar.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Petróleo do Futuro
As palavras que preenchiam vazios não servem mais pra mim, não para esse momento. Sou cheia de tanto vazio, ele me preenchem e não dá espaço pra o que é de verdade, apenas me deixa cheia, cheia do que não faz bem para os outros, nem pra mim mesma.
As linhas que hoje estão brancas de sentimento não me fazem escrever, talvez por serem cretinos demais, ou por não existirem pra mim. E assim me dou conta do vazio, quando as palavras não saem através dos dedos e do teclado, quando a caneta descansa ao lado do papel, sem vontade de fazer sentido. A inspiração de antes não existe mais, ela se foi, como que quem faz uma viajem, longa de mais para se dar o trabalho de voltar, me deixando aqui, com mais uma folha em branco, amassada, esperando o momento de ser jogada fora. Eu tenho esperado sair da folha em branco, esperado fazer com que meus sentimentos valessem meio texto. As pessoas sentem os sentimentos por trás de tantas lacunas de por quê? Ou as Indecisões criadas? Elas querem saber o que eu quero dizer com cada frase mal terminada? Acho que não. Eu crio o personagem, cabe somente a você se identificar ou não, caso não se identifiquem, são só meias palavras que não fizeram sentido aos sentimentos que você tanto presa. Mas são só sentimentos, não é mesmo? Mas a culpa está em mim, por não dar valor aos sentimentos alheios, quando não dou valor nem aos meus. Assuma a responsabilidade que eu sou, apenas um amontoado de palavras, que ainda não saiu da folha em branco, não fez sentido no não fazer sentido, quando não se entende em que sentido eu quero dizer. É só mais uma novela tentando se encaixar num conto, essa sou eu, tentando se exclamar e tantas duvidas e interrogações, você não entende e eu não te culpo por não tentar entender.
As palavras são meninas mimadas, elas saem sozinhas, se escrevem, e eu sou somente uma maquinas que elas usam sem perguntar, e quando dou por mim, já não sei mais sobre que assunto estava, elas somente continuam, se fazem, se juntam. E me explicam quando se fazem momentos em que não vivi, quando elas falam sobre coisas que eu não sei. O bater dos teclados,o riscar das canetas, e as meninas mimadas vão brincar com meus dedos, numa ciranda de sentimentos. Sinto que elas criam vidas entre o branco, mas como vou perguntar, se nem eu mesma sei? Não faz sentido como tanto sentimento que desconheço que sejam meus me preenche de certa forma. As palavras me usam, e de alguma maneira eu gosto de ser usada assim, se o vazio for se esvaindo, e nada mais restar.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Sereníssima
Porque tudo uma hora cansa. E de tão cansado de se cansar, às vezes tu não desejas mais nada. Observando de uma outra perspectiva, as vezes daria certo, se a paciência fosse virtude minha, se eu apenas esperasse, mas o esperar cansa mais que qualquer outra coisa. Os sinais estão todos espelhados, no ar, palpáveis. Só não lhes vê quem não os quer, ou quem está cego pela ilusão do existir, poderia culpar a mim por isso? E na escuridão, tão ilusória que era, menina fria e traiçoeira, não lhe deixa ver nada, só coisas que sua mente, um pouco ébria, lhe pregava para ser vista.
Talvez, talvez e talvez. Tão cheio de talvez você era, não mostrava nada, cheio de duvidas, garoto que não pensava em existir para ninguém, você existia para mim. Totalmente fora da ilusão de Dândi, que a literatura me criara, tu não era isto. E agora, observando tão longe, tão obscuro, seu caminho sem mim. Mas tu não vês as ervas daninhas.
As tentativas, indo e voltando, como quem brinca num balanço, sem saber a hora de sair, e quando se voa alto, sem colocar os pés no chão, tu cai. Só quero que seja breve, se tens que partir, então parta, se não for embora, que fiques comigo, mas que não seja doloroso, ambas as coisas.
Não lhe peço mais sinais que me mandem desistir, eles estão todos ai, de uma maneira ou outra.
sábado, 7 de janeiro de 2012
505
Da janela do banheiro olhava seu rosto, a luz fraca dificultava a tentativa de ver a barba mal feita que crescera, rápido demais. Saíra de lá, o cheiro daquele banheiro sujo o enojava. Foi para o quarto, pequeno e bagunçado, se jogou na cama e olhando para o teto, a imagem de sua antiga casa lhe veio à mente, tão perfeitamente que lhe fez piscar os olhos, era real demais. As lembranças estavam intactas na sua mente, fresca em sua memória. Viu seu quarto bagunçado de adolescente rebelde, rebelde sem causa. Suas coisas, aquelas que tanto gostava e não possuía mais. Viu sua cama bagunçada, mas a bagunça não era imoral, não era suja, como das garotas que freqüentavam seu apartamento agora. Olhou para a porta e viu seus pôster, e sua garotinha aparecer lá. Sua princesinha. Os mesmos olhos, brilhando de inocência idade, sua estatura minúscula o fazia rir, e seus sonhos de nunca vê-la crescer voltar. Agarrou o sonho com força, vendo ele se esvair, sua garotinha crescera, cedo demais. Seus olhos estavam fixos no teto, lacrimejavam, ele não chorou quando ela se foi, não choraria agora. A sociedade era suja, ele sabia, aprendera a conviver com aquilo, com o futuro se partindo, como se a cada dia não fosse mais existir. Levantou, pagou as chaves e saiu, os bares estavam todos lá, abertos, a espera de mais um descontente, a espera de mais um copo para servir. Uma ultima dose.
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