Da janela do banheiro olhava seu rosto, a luz fraca dificultava a tentativa de ver a barba mal feita que crescera, rápido demais. Saíra de lá, o cheiro daquele banheiro sujo o enojava. Foi para o quarto, pequeno e bagunçado, se jogou na cama e olhando para o teto, a imagem de sua antiga casa lhe veio à mente, tão perfeitamente que lhe fez piscar os olhos, era real demais. As lembranças estavam intactas na sua mente, fresca em sua memória. Viu seu quarto bagunçado de adolescente rebelde, rebelde sem causa. Suas coisas, aquelas que tanto gostava e não possuía mais. Viu sua cama bagunçada, mas a bagunça não era imoral, não era suja, como das garotas que freqüentavam seu apartamento agora. Olhou para a porta e viu seus pôster, e sua garotinha aparecer lá. Sua princesinha. Os mesmos olhos, brilhando de inocência idade, sua estatura minúscula o fazia rir, e seus sonhos de nunca vê-la crescer voltar. Agarrou o sonho com força, vendo ele se esvair, sua garotinha crescera, cedo demais. Seus olhos estavam fixos no teto, lacrimejavam, ele não chorou quando ela se foi, não choraria agora. A sociedade era suja, ele sabia, aprendera a conviver com aquilo, com o futuro se partindo, como se a cada dia não fosse mais existir. Levantou, pagou as chaves e saiu, os bares estavam todos lá, abertos, a espera de mais um descontente, a espera de mais um copo para servir. Uma ultima dose.
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