sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

O bêbado e a equilibrista

Virou outro copo garganta a dentro, o mundo é mais fácil de ser encarado quando não se está sóbrio. O gosto amargo do vinho seco, e barato, rasgavam seu fígado; “Que fígado?” Aquele músculo inútil e podre que não devia mais existir dentro de si. Mais um gole, fechou os olhos em careta desajeitada, não estava pronto a parar, não quando toda a imundice global vinha no ar, direto aos seus pulmões. Aquilo era o inferno e ele estava queimando. Mais um bar, mais um copo, mais uma espelunca com odor de urina e putas transitando para mostrar produto, mas não importava, não se o seu dinheiro pagasse. [...] Deixou as moedas que lhe restaram de mais um dia sujo sobre o balcão, ziguezagueou até a saída, a cabeça pesava sobre os ombros, era hora de ir para casa, sem a emoção da espera, ninguém estaria lá de qualquer maneira. Vadias entravam e saiam, levavam seu dinheiro depois de algumas horas de serviço e gozo rápido, e isso era tudo. [...] Abriu a porta com imensa dificuldade, a fechou e se jogou no sofá surrado ao canto do pequeno quarto. Tateou a cômoda a procura da sua caixa de cigarros, pegou um e o girou entre os dedos, acendeu e o levou a boca, nada melhor que toda aquela nicotina direta para o seu pulmão. Ligou o rádio, deu play e os primeiros acordes de guitarra começaram, o teto rodava e ele gostava dessa sensação, ébrio e sem pensamentos. Soltou a fumaça em um suspiro. Ficaria bem enquanto ficasse assim, até o próximo dia.

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