quinta-feira, 30 de maio de 2013

Minha paz - As 505 lembranças

 O acaso é estranho, sabe, eu estava confusa ainda, e o vi, distante, meu coração foi na boca, acelerado, e disseram que meus olhos brilharam, talvez. Ele estava do outro lado, e sorriu, e eu desejei não tê-lo encontrado, estava com vergonha, mas ele veio até mim, e conversamos, ele foi embora, e eu não sabia o que sentir. Depois o reencontrei, olha só como são as coisas e então ele se foi, novamente, e me abraçou, aquele abraço que te faz fechar os olhos, e achar que o mundo parou. Desejei com todas as minhas forças que ele não me soltasse, e então não me senti mais confusa, era um abraço apertado, típico dele, mas aquele foi o melhor abraço do mundo.   

Eu me lembro - As 505 lembranças

O trem havia parado, e descemos, ele estava sentado, de costas e então se levantou. Não lembro o porque, mas eu esqueci de respirar naquela hora, foi a primeira vez que o vi, me encantei, assim de cara, como quem se apega ao incerto. Estava envergonhada, e ele sorriu, o trem havia chegado. 

Fim do dia - As 505 lembranças



 E ele fumava aquele cigarro, distraidamente, e eu o observava, disfarçando, quando os olhos dele encontravam os meus, era só o medo de me perder, e mantinha distância segura, olhando para a rua e os carros. Ele jogava as cinzas no chão, e elas iam com o vento, deixando a fumaça ir embora também. Uma tragada, como se o cigarro fosse a coisa mais importante do mundo, ele me olhou e sorriu, e foi o sorriso mais bonito que eu já vi.

Segunda Feira

Você foi, foi embora, assim, como quem escolhe um caminho melhor e vai, só vai, e eu? Permaneci, só permaneci, com um grito preso na garganta, ecoando pela alma. E eu pergunto; O que eu faço com o que sobrou de nós, menino? Foram tantas promessas, tantos abraços e tantos sonhos. Você disse que seria para sempre, e eu ingênua, acreditei, porque quando eu olhava nos seus olhos, pareciam verdades. Ainda lembro do seu sorriso, e isso machuca minha rotina, você está longe agora, e faz o passado parecer séculos de saudades, perdidas em 4 dias. É só essa vontade de ir atrás de você, mesmo depois de todas as tentativas de te parar, mesmo depois de todos os pedidos; “Fica?” e você não olhou pra trás. Você não precisava ir embora, menino, era só esquecer os problemas lá fora, deixar eles lá com a chuva, você não precisava se preocupar, porque você estava comigo, e nada mais importava enquanto suas mãos se entrelaçavam nas minhas. E o que sobrou foram só as milhares de coisas de quais irei sentir falta, e é só essa saudade que insistiu em ficar aqui fazendo frio, nevando dentro de mim. Seu medo era que eu fosse, e veja só, nos perdemos em uma dessas esquinas que a vida costuma deixar, e eu fiquei aqui, perdida. 

domingo, 26 de maio de 2013

Codinome Beija-Flor


 Não sei o motivo de te escrever agora, talvez seja só mais um impulso de dizer tudo o que eu sinto e mesmo assim deixar mais um texto guardado no fundo de uma gaveta, pra ninguém ler.(...) É que nada mais tem feito sentido, e faz tempo, desde a primeira vez que te vi, lembra? Você não sabe, e talvez nunca vai saber, mas eu me esqueci de respirar naquela hora, quando te vi pela primeira vez. Faz tempo garoto, mas parece que mesmo depois de tudo, talvez eu nunca tenha te esquecido de verdade, parece que as coisas continuaram desde aquele dia na estação, até hoje. Lembro de como uma mensagem me alegrava e conversávamos tanto e mesmo não querendo, te afastei de mim, mas que chances eu teria?
 E depois de algum tempo você reapareceu, me trouxe de volta alguns sorrisos que só você conseguia tirar. E você me deixou confusa, e me arrependo de não ter te impedido de ir, ao invés de prometer esquecer. E não esqueci, mesmo fingindo, mesmo querendo. Tentei focar em outras pessoas, mas por que eu me lembrava tanto do seu abraço? Por que ninguém conseguia me fazer sorrir do mesmo jeito que você? Não sei, mas sei que te incomodo, com minha preocupação exagerada e esse ciúmes sem sentido, mas ta tão difícil esconder sabe, fingir que está tudo bem. Eu sei que estou errada por gostar mais de você do que já gostei de qualquer um. (...) Você nunca vai saber de como meu coração se esquece de bater e parece que vai explodir toda vez que você me abraça e eu tenho essa vontade louca de dizer “não me solta mais, fica aqui comigo.”, mas fico em silencio, porque sei que não tenho esse direito. Sabe eu ainda me esqueço de respirar, toda vez que te vejo. Eu sou essa parte errada, que não faz sentido e eu sei, deveria ser a melhor amiga que só apóia, mas nem isso eu tenho conseguido fazer. Desculpa ser assim pra você, ser essa metade que não se encaixa em lugar algum e mesmo assim te quer pra ela, como se tivesse direito de querer alguma coisa. Talvez o amor exista, e talvez eu sempre estive errada.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

Se tiver que ser na bala, vai.


Como se a estrada que estava seguindo fizesse parte do seu corpo, ela foi. O vendo batia em seu rosto, e ela sentia mais que isso, era aquela liberdade que muitos queriam, era a estrada sendo vencida, como um sonho alcançado. Uma parada, um bar, um posto de gasolina, mas tudo continuava. O volante, o banco, o acelerador, era como se fizesse parte do carro, por tanto tempo que esteve lá. Via o sol, a chuva, as montanhas e o mar, e não era o bastante, ela queria viver aquilo, tomar conta do mundo. Uma curva, um caminho, uma placa. Não sabia para onde ir, só estava indo, e isso não era tudo. Como quem está sempre de partida, com as malas no bagageiro, pronta para um adeus. E ela ia, quem conseguiria impedir? Virou mais uma esquina, como quem vence a próxima barreira, chegava em seu destino, e logo virava ponto de partida. Essa era a vida, esse era o mundo que ela queria abraçar, e ela conseguia. Em um desses dias que o sol se punha no horizonte percebi, ela estava certa. 

sábado, 11 de maio de 2013

Quarta Parada


 Divagava uma cena que nunca iria acontecer. Nesse devaneio, encontrei uma história de vida sincera que eu sempre esperei ouvir.
Começara a ser indagada sobre a hipótese de ter uns trocados ali comigo. Sentada numa toalha xadrez sobre a grama, ofereci-lhe o que comer e a minha atenção. Dissera-me que era mais do que o suficiente. Foi então que sentou-se ao meu lado e não se deu ao luxo de se sentar sobre a toalha clichê de piquenique.
Nosso diálogo nasceu a partir da seguinte pergunta: “Como é que te ajudo?”. “Conta-me algo sobre a sua vida”. Ele se mostrou um tanto surpreso. Mas a verdade, ambos sabiam; ele, na rua, no frio, sozinho, vivia mais do que a moça que lhe imaginava. “Quero escrever sobre você”. “A moça escreve livro, é?”. “Não, não posso e nem sei como é que se faz. Só brinco que sei. E não se vende o que é sincero...”. Ele conhecia, entendia o mundo.
Ele parecia procurar a palavra certa para começar. Ajeitei-me como se ajeita quando se o ouve o anúncio de que o espetáculo vai começar. “Não sei quanto tempo faz, sabe moça, só sei que faz tempo. Eu era garoto, gostava de brincar na rua e ir atrás de pipa, não queria saber de estudar não, moça.”. E parou como se procurasse o passado em meio as nuvens. Perdeu-se num olhar. “Está aqui a muito tempo?” Perguntei, com esperança que a história não se perdesse. “Não, cheguei aqui há 2 anos. Morava lá na 28 de Maio, a ponte principal.” Sorriu e continuou. “Esteve sempre sozinho, foi?”. A minha curiosidade inocente nunca soube se controlar. “Eu já tive família um dia. Dessas famílias que ninguém deveria abandonar, mas a gente nunca sabe disso quando tem.” Ele se perdeu, deixou perder. E aquela dor, eu trouxe comigo, como souvenir de uma boa história.

- Com Júlia Recieri

Família


 Eu não gostava dela, mas tem gente que a gente acaba amando sem nem mesmo perceber. Porque é gente que amar é consequência. Uma consequência que quase não se nota, que se aceita, que é o melhor presente de uma vida. Você ama, um amor que parece estar contigo a sua vida toda.

 Menina magrela, assim como eu. De longe, já me aguardava de braços abertos para um abraço. Um desses abraços que se pede bis. Não havia recepção melhor que a dela. Ela irradia o que há de melhor. Doce, e não há ninguém no mundo como ela, que denotava simpleza, e que sabe ser. E dentro dela continha mil coisas gritando para sair, e ela deixava. Sem timbre ou ritmo - apenas deixava. Tagarela, tanto amada.

 Tomava-me pela mão e me levava consigo, e eu me deixava levar, eu queria ser levada por ela! E quem não queria, tolo era.
Mas, num desses finais de tarde, que deve-se dizer adeus quando se quer ficar, eu a vi, já um pouco distante, com sua portentosa mochila, na qual ela carregava o mundo, indo embora sem mim. Andava decidida, como alguém que havia escolhido um rumo. E no banco frio, eu só pensava em ir com ela.

Para a minha pequena Ohana, que eu tanto amo.



- Por Júlia Recieri