O crepúsculo se iniciava, a
vermelhidão rotineira tomava a imensidão e eu a observava em meio aos risos e
as conversas bobas. Eram assim, todas as tardes, cheias de abraços e palavras
mal colocadas que gerava risos o caminho inteiro. Minhas costas doíam, os
pensamentos vinham como pássaros ligeiros que logo me escapava, eram muitas
coisas, todas bobas, mas que me perdia, por alguns minutos, mas os risos delas
me acordavam novamente. Mil e um livros e faltava-me braço, espaço e força, e
as mãos eram dadas, ao atravessar correndo as ruas que eram menores que nosso
medo de caminhar. Era quase morrer todos os dias. A imaginação corria solta
pelo caminho, palavras no ar, e risos, apenas risos. Gritos, músicas, lugares e
fotos. Puxões e cuidados, broncas de quem se preocupa. E em espaço nosso
comandávamos a bagunça, não existia mais nada, éramos nós e nosso jeito de
querer agarrar o mundo com as mãos, mas suspeito ainda, talvez conseguíssemos.
Gostava daquilo, como gostava do café da tarde em companhia boa, depois de uma
tempestade, quando ainda se ouvi os pingos do telhado. Como ver meu pai com
violão nos braços prestes a entoar canções e minha mãe rir na cozinha.
Gostava tanto que não queria me despedir e nos momentos de
separação, era como se tirassem meu cobertor em meio ao frio. Dizia adeus, como
quem espera o próximo dia, quem espera o próximo ‘oi’. Éramos um abraço e tanto.
[...] Falava e falava, e me pergunto agora, como me agüentaram? Não o sei, mas
agradeço-lhes por isso. Eles eram o complemento, era como se sentir em casa. E
a falta dos últimos dias é das tardes que o mundo era nosso, somente nosso, de
mais ninguém.
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