Colocou um grande chapéu, encobria-lhe os olhos e mal a
deixava ver. Com as vestes largas, muito maiores que seu pequeno corpo, a fazia
tropeçar, e os saltos? Tão grandes eram que seus pequenos e finos dedos ficavam
perdidos dentro dele, e seus passos estranhos a faziam tombar. Fechou o guarda
roupas, e estava pronta, logo ela chegaria. O risinho de criança travessa
denunciava ao pai, que parando em frente ao quarto a surpreendeu com uma enorme
gargalhada. –“Oras, o que és isso?” Perguntou entre os risos. –“Uma surpresa
para a mamãe!” E com um bico mimoso de vermelho borrado, respondeu. E sem
responder o homem saiu, deixando pequenas risadas no ar. Parou em frente ao
espelho, e pensou ser adulta, dona de imensas responsabilidades, ou que sabe
uma princesa? Rodou e rodou, nos sapatos maiores que os pés, e sentiu como se
pudesse ser qualquer coisa, e até mesmo tão forte quando a dona das peças.
Ouviu a porta bater e uma escrava adentrar o aposento eufórica; -“Mas o que e
isso? Quanta bagunça! E sinhá já chegou!” Bradou em desespero, enquanto
apanhava peças de roupas espalhados pelo chão. Mas não respondeu, apenas tentou
correr escadas a baixo, o mais rápido que seus sapatos deixavam, e pulou sobre
a mulher que risonha a saudou. –“Não tens jeito, não é?” E em resposta a
pequena apenas a abraçou. E voltou a usar aquelas roupas, anos depois, quando a
velhice batera na porta da mais velha, e fora levada. As roupas, já descoradas
e velhas, serviram-na, debruçada em lagrimas sobre o corpo, abraçou-a pela
ultima vez.
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