terça-feira, 26 de junho de 2012

Canção de ninar


Colocou um grande chapéu, encobria-lhe os olhos e mal a deixava ver. Com as vestes largas, muito maiores que seu pequeno corpo, a fazia tropeçar, e os saltos? Tão grandes eram que seus pequenos e finos dedos ficavam perdidos dentro dele, e seus passos estranhos a faziam tombar. Fechou o guarda roupas, e estava pronta, logo ela chegaria. O risinho de criança travessa denunciava ao pai, que parando em frente ao quarto a surpreendeu com uma enorme gargalhada. –“Oras, o que és isso?” Perguntou entre os risos. –“Uma surpresa para a mamãe!” E com um bico mimoso de vermelho borrado, respondeu. E sem responder o homem saiu, deixando pequenas risadas no ar. Parou em frente ao espelho, e pensou ser adulta, dona de imensas responsabilidades, ou que sabe uma princesa? Rodou e rodou, nos sapatos maiores que os pés, e sentiu como se pudesse ser qualquer coisa, e até mesmo tão forte quando a dona das peças. Ouviu a porta bater e uma escrava adentrar o aposento eufórica; -“Mas o que e isso? Quanta bagunça! E sinhá já chegou!” Bradou em desespero, enquanto apanhava peças de roupas espalhados pelo chão. Mas não respondeu, apenas tentou correr escadas a baixo, o mais rápido que seus sapatos deixavam, e pulou sobre a mulher que risonha a saudou. –“Não tens jeito, não é?” E em resposta a pequena apenas a abraçou. E voltou a usar aquelas roupas, anos depois, quando a velhice batera na porta da mais velha, e fora levada. As roupas, já descoradas e velhas, serviram-na, debruçada em lagrimas sobre o corpo, abraçou-a pela ultima vez.

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