sábado, 2 de junho de 2012

Música Ambiente

Era sempre o mesmo lugar, e eu avistava logo aquele grande e cheio meio de transporte. Lia mentalmente as grandes letras laranja que indicavam o caminho e eu embarcava. Era cheio de pessoas, conversas paralelas, mas eu não ouvia ninguém. Não importa se era 505, Perdidos no Espaço ou Check- up, era sempre aquele mesmo fone, hora em um lugar, hora em outro, a janela sempre era minha maior aliada. Sentada uma vez do lado esquerdo, observava com atenção as curvas que dava e na minha cabeça, quantos acidentes não acontecera ali? Imaginava em cada curva e ria, quando não havia mais escapatória. [...] A viagem era sempre a mesma, os mesmos lugares as mesmas pessoas, o mesmo tempo. As vezes um sorriso me escapava para alguém que estivesse pronto a recebê-lo, outras vezes passava ligeira, pedindo perdões e licenças. Eu cantava com toda minha alma silenciosamente, “You're waiting laying on your side, With your hands between your thighs...” e meus olhos se fechavam como se estivesse sozinha. Mas eram poucos os dias em que esquecia completamente a música e meus olhos brilhavam ao contemplar o céu se alaranjar com a aurora. O sol então dava a graça com seus primeiros raios saindo por detrás das montanhas, e eu não piscava. Acompanhava da janela daquele ônibus o nascer da manhã e às vezes, o fim da noite, com a lua perdendo seu brilho, e as estrelas se apagando, uma a uma. Seguia a lua com os olhos atentos, ela sorria e eu devolvia o sorriso, pronta para repetir Too Afraid to Love You.

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